sexta-feira, 30 de setembro de 2011

desproporção

se as coisas acontecem comigo  do jeito que eu quero, essas só vêm um tanto tarde, então fico sobreposto.

Ontem tive muita dor, então fui ao médico e descobri que tenho o estômago maior que o intestino - caso não doesse tanto seria cômico, mas qualquer desproporção é engraçada, posso fazer piadas e rir com os amigos. Em poucas palavras, a receita médica é esta: antes de comer mais, tenho que botar algumas coisas para fora.



eu também tenho o coração maior que o cérebro.




segunda-feira, 26 de setembro de 2011

primeiro.

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Outro dia eu copiei um poema, desses que tenho guardado na cabeça, para que se tornasse meu. Desses que às vezes esquecemos o autor e só existem as palavras - palavra, diferente dos sentimentos, não tem dono. É de domínio público - é de quem tem boca, de quem tem boca ou escreve.

Outra noite, quando liam um poema sob um céu desconhecido, em alguma parte, lugar, olhei só para as palavras dos que têm bocas, para que também tornassem donos. Olhei só para os lábios. Lábios tem dono, coração também. Tempo é domínio público, pertence à ninguém. Nem mesmo aos poetas.                                                           justo.
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tem uma palavra que não quero falar.
(mas sempre tá presente)
Não passado, às vezes futuro.
Sinto-me é um doido. E quero.
Querer pertence ao tempo. Pertence, de sujeito, de predicado.
Pertence à palavra proibida.
Nunca passado.
Quero é futuro num presente - ( ainda sem embrulho). É realidade em sonho - ou o sonho de uma realidade?
Talvez seja lembrança, daí o Querer se faz passado, não pertence mais à regra. Sempre passado. Dessas coisas que já não aconteceram.

domingo, 25 de setembro de 2011

filme

Quando você ver uma foto que tento revelar, lembrará do exato momento em que a tirei. Foi assim: havia a alegria, o riso, e tentei captar. Houve um grande silêncio até que o som da máquina avisou que já não chovia.
Era um dia nublado – desses em que o sol só aparece de vez em quando para dizer que ainda é belo e vivo. Seguíamos em uma velocidade desordenada, às vezes corríamos, e deixávamos o vento brincar com os nossos dedos, às vezes íamos lentos, tentando decifrar o som distante da cidade, às vezes parávamos e tornávamos cúmplices do planeta, às vezes corríamos em busca de belas fotografias… Seguia por entre a natureza, até que houve.
Não sei se é esta a tarefa da fotografia: congelar o momento. Não quero estátuas. Tenho buscado deixar vivo estas memórias.
Geralmente, quando releio o que escrevo, forma-se um riso no meu rosto. Quando revejo as fotografias? Cabe uma lágrima. É saudade.